A tecnologia será o catalisador da tão ambicionada transparência e evolução do mercado?
Tiago Dias8 de Junho 2022
Em 18 de Agosto de 2008 o domínio “bitcoin.org” foi registado, e em Outubro desse mesmo ano foi publicado o whitepapper: “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”.
Esta incrível invenção surgiu ao que parece, da necessidade de dar uma resposta clara à crise económica mundial vivida em 2008, ou olhando para a História, para os seus sucessivos ciclos ou crises económicas a nível mundial.
A verdade é que a ideia e a sua execução levaram à criação de um sistema de pagamento eletrónico descentralizado e distribuído, ou seja, sem controlo de uma entidade central. Nakamoto sugeriu, com algum sarcasmo e muita certeza na altura, que as pessoas deixassem de confiar nos bancos ou em entidades centralizadas que poderiam imprimir o dinheiro que bem entendessem, para passarem apenas a confiar na matemática e na criptografia, e no facto de a Bitcoin ser um bem escasso e finito que a tornará, digo eu, numa reserva de valor muito apetecível.
Esta será provavelmente, para mim, a maior invenção e revolução tecnológica que aconteceu nos últimos 100 anos.
Vivemos tempos tão maravilhosos quanto disfuncionais tão típicos e característicos de outras tantas disrupções que tiveram um impacto no mundo parecido a este. Sei que ainda existe muita incerteza relativa à sua massiva adoção e também em relação à volatilidade do preço da Bitcoin e a todo o mercado das criptomoedas, mas a explicação parece ser simples.
Em 1962, Evert Rogers, professor americano de sociologia desenvolveu uma teoria chamada “Difusão de Inovações” para explicar este fenómeno. Descobriu que existem cinco tipos de pessoas na sociedade e que essas pessoas têm comportamentos muito diferentes quando têm de adotar novos comportamentos, ações ou simplesmente aceitar novas ideias.
Nestas últimas semanas tenho assistido a uma miríade de artigos sobre a “venda” do primeiro imóvel em Portugal concretizada através do pagamento de Bitcoin e sobre a excitação e novidade que gerou no mercado, na imprensa e nas pessoas em geral. Foi de facto uma jogada de marketing muito bem conduzida pela Zome, mas devo afirmar que o verdadeiro desafio foi jurídico ou, em primeira instância, encontrar duas pessoas dispostas a trocar valor da forma supra mencionada.
Mas não confundamos crypto com a tecnologia que a suporta. Esta pressupõe a implementação de uma estrutura de dados com registos de transações que são assinadas digitalmente para garantir a sua autenticidade e que garante a imutabilidade dos mesmos, distribuídas numa plataforma com várias camadas de registos partilhados e autenticados. Cada vez que há uma nova transação a plataforma valida e acrescenta um novo “bloco” na cadeia de informação, mas se não for reconhecida como válido não é aceite. É como se tratasse de um livro de registos público.
Hoje posso afirmar que parece não haver muitas dúvidas relativamente à sua aplicabilidade no mundo real e ao valor acrescentado que irá trazer para a sociedade e para a forma como iremos trocar valor, seja em que sector for, no futuro.
Está na altura de o mercado, o regulador e os seus decisores perceberem, de uma vez por todas, que a tecnologia não é, nem será nenhuma ameaça para quem está no mercado, mas sim um catalisador para que o mesmo se torne mais transparente, mais confiável, mais eficiente e com maior e mais rápida liquidez.
Não há que ter medo de escrever palavras que sempre foram um tabu, ou proibidas, para o mercado e para quem sempre esteve nele, porque não podemos esquecer que a próxima geração terá necessidades e uma forma de estar, e de olhar a vida diferente, sendo que para se poder prestar um melhor serviço aos clientes é necessário que não deixemos de começar já a criar hábitos tecnológicos ou de criar condições para que os negócios possam prosperar.
É normal que quem tem o controlo do status quo irá sempre tentar que o mesmo se mantenha com o intuito de manter o poder, a quota de mercado ou de controlar (neste caso esconder) simplesmente a informação. Todos sabemos que cada transação imobiliária é um processo complexo, totalmente baseado em papel onde o comum dos mortais nunca sabe muito bem qual o passo a seguir, muitas vezes sem informação aberta e credível que consubstancie melhores e mais rápidas decisões de investimento.
Para mim, esta ideia peregrina de que tecnologia é um alvo a abater é mesmo algo que não faz qualquer tipo de sentido e posso afirmar com um grau elevado de certeza que, por mais que a tentem contrariar, esta será mesmo uma boa inevitabilidade. Basta conhecer a realidade dos mercados dos países mais desenvolvidos.
Nos meus próximos artigos farei uma análise detalhada sobre como esta tecnologia, baseada na descentralização, na colaboração e na transparência, irá mudar a forma como este mercado irá operar e relacionar-se entre si num futuro não muito distante.
Esta é uma evolução mais que necessária tendo em conta que todos os atores deste mercado, mesmo que desconfiem do que escrevo, serão empoderados pelas mais-valias que a digitalização, a automação, a inteligência artificial ou a web 3.0 trarão de forma implícita, gradual e orgânica.
O que quero mostrar é que esta mudança nunca será binária ou imediata, que poderá ser sim mais ou menos demorada, mas que irá acontecer no curto médio prazo. Disso já ninguém tem dúvidas.
Há um caminho de adoção a fazer por quem realmente se importa com a experiência e com o serviço prestado ao cliente e, em última instância, à sociedade, porque no final são os clientes que irão impor a sua vontade escolhendo os atores que melhor se adaptarem, ou que mais se preocuparem com as suas novas necessidades, desejos ou imposições.
E aqui reside a oportunidade para a mediação: ajudar potenciais clientes a perceber as possibilidades que existem, mostrar as suas vantagens e ajudar numa eventual operação.
Em Portugal ainda temos um caminho longo para chegar aos níveis de penetração no mercado típicos dos países mais maduros, onde mais de 85% das transações imobiliárias são realizadas na esfera da mediação imobiliária sem qualquer obrigatoriedade de contratação de serviço e parece-me bem mais interessante pensar numa estratégia de promoção de médio prazo que ajude pessoas que não recorrem ao serviço de mediação imobiliária a converter e a mudar a sua opinião generalizada sobre a relevância do serviço, do que tentar impedir, seja de que forma for, que a tecnologia se torne num ativo indispensável para o dia-a-dia de quem quer mediar também este tipo de negócio.
O foco tem de estar sempre na prestação do melhor e mais transparente serviço a cliente, e quem assim pensar, terá uma nítida vantagem competitiva em relação a todos os outros que só pensam em sobreviver.
Acreditamos que a tecnologia apoia o serviço e será de facto o catalisador da tão ambicionada transparência, de uma melhor experiência de cliente, da automação e digitalização total do mercado, da segurança e integridade da informação e por último, de um mercado mais confiável. Afirmo-o de coração aberto e sem qualquer conflito de interesses que me impeça de o fazer, afinal, a minha verdadeira missão como Unlockit é e será sempre ajudar a mediação a atingir níveis de idoneidade e de confiabilidade que nunca foram possíveis de fornecer neste mercado.
Esta é a minha missão, esta é a missão da Unlockit que desafia o status quo e traz a possibilidade de evoluir para uma nova forma de estar e de trabalhar no mercado imobiliário sem substituir ninguém das suas atuais funções e apenas empoderando, quem quiser ser empoderado.